Rio de Janeiro, Rocha, noite, 13 de abril de 2006. Tenho estado
pensativo sobre o envelhecimento. Algo não muito difícil de entender após o
aniversário de trinta e cinco anos, mas que não se explica apenas por isso: o
tempo passa e se anuncia de várias maneiras, reivindicando a condição de dono
da situação. Ao explorar o tema com mais afinco, vejo que eu e ele sempre
estivemos muito próximos, mas nossa proximidade nunca recebeu tanta ênfase. Por
exemplo, um dia intui que empresas são reestruturadas, marcas são rejuvenescidas,
pessoas envelhecem e morrem, mas não avancei na inquietude que gera essa
intuição ou que é gerada por ela. O tempo está aí.
Mas a atual devoção ao tema tem um intuito: desenvolver e
consolidar uma perspectiva mais estruturada sobre envelhecimento, banindo,
automaticamente, leituras simplificadoras. Estas não podem mais continuar. Envelheço.
Apesar de ser só 35 anos, o envelhecimento é uma realidade sentida, vivida por
mim, não é mais um conceito ou realidade constada ao olhar o próximo.
Admito que ainda não me sinto muito à vontade para falar de
maneira consistente sobre a vida – tenho medo e me sinto ignorante – mas sei
que não aceito nem suporto mais leituras muito óbvias e superficiais sobre essa
viagem que fazemos através dessa explosão biológica que individualmente
encerramos. A vida é uma explosão biológica que me assusta conformo me conscientizo
da sua dimensão ou alcance.
Reflito sobre o significado do envelhecimento, seus sinais e consequências,
assim como procuro relacioná-lo com as diversas partes da minha vida. Penso nas
consequências da passagem do tempo sobre minha pessoa, nos planos corporal,
intelectual e espiritual. As marcas dessa passagem se manifestavam de forma
isolada, agora tudo se encaixa ou mostra sua inexorável complementaridade. Alguns
dos meus últimos, vacilante e infrequentes escritos trazem essas marcas. Tenho
falado de precaução, contenção, saudade, esquecimento, desencanto e prudência,
mas de forma contundente. Falo muito pouco sobre revoluções, sonhos, planos
para criar novas realidades e a importância de correr riscos. É como se não
tivesse trinta e cinco anos.
Também escrevo sobre meus estranhamentos com a vida: as coisas
relativas ao viver ainda não estão como dadas para mim, totalmente
decodificadas. Ainda tem muitos pontos de interrogação acenando para mim na prateleira
das reflexões. Minha adaptação a tudo o que a vida encerra e representa não se
dá sem momentos de angústia, ainda que novas leituras apareçam, à medida que
envelheço e possa haver uma amenização nas interpretações. Lamentavelmente, são
leituras menos apaixonadas, pouco carregadas de tesão e emoção inquietantes e peculiares
a uma explosão. Às vezes, penso que aqueles que algum dia lerem o que tenho
escrito não farão transformação alguma em suas vidas. Mas também penso que não
atentarão contra as próprias vidas, pois, ao meu jeito, mostro que o prazer
sobressai às angustias. Sobre o prazer, acrescento que o que mais me dói é a
perspectiva de que sua maior e melhor ocorrência venham de fora dos espaços que
formam minha dimensão lar. O prazer na sua expressão mais ampla.