Rio de Janeiro, Rocha, noite, 18 de agosto de 2004. Não sei o
que me deixa mais incomodado: a diversidade de caminhos que percorri até aqui
ou a avassaladora quantidade de dicas de caminhos a seguir que vêm do meu
interior.
Como sempre as dúvidas abundam em minha vida, mas agora com os
detalhes de quem já passou dos trinta anos. Estou com trinta e três. As dúvidas
são motivadas por razões diferentes daquelas de dezesseis anos atrás. Não tenho
mais a agilidade e a audácia de um jovem de 18 anos. Continuo me sentindo
espremido no mundo, mas não saio à rua à procura de uma surpresa. Também não me
angustia a ausência de recursos para poder fazer as escolhas mais básicas, como
era antigamente. Pressiona-me, sim, um mal-estar de quem acabou de escutar um
tiroteio perto da favela da Mangueira que durou quase uma hora.
Estou assustado e incomodado no bairro do Rocha, escrevendo na
cozinha do apartamento. Felizmente, ouço a MEC AM, como faço há dezesseis anos.
Não me estranha chegar à constatação de que estou escrevendo na cozinha, já o
fiz antes em outras cozinhas e essa não é uma das menores que tive para morar.
Incomoda-me o fato dela parecer uma prisão. Assim que me sinto: prisioneiro no
bairro do Rocha. Logo eu que sempre prezei o significado e o valor da liberdade
e que aos dezessete anos a elegi como prioridade. Entender o significado de
estar aqui e passar por isso é o que me leva a escrever. Isso aqui é muito diferente
do que quis para mim e do que me lembram diariamente minhas reflexões.
Pela manhã, recebi um sinal interessante, daqueles que lá no
fundo você acha que é um recado do destino. Peguei um caderno antigo para
estudar e na primeira folha estava escrito, “Nunca teríamos nos revoltados, se
não tivéssemos sonhado”, frase que o desconhecido dono do caderno credita a Ben
Bella e a quem minha ignorância não permite reconhecer.
Pensando bem, o tempo é mesmo o senhor.
ResponderExcluirPois você me parece bem mais feliz hoje em dia.
Reflexivo...
ResponderExcluirPois é, a liberdade não está la fora, mas dentro. Essa ninguém tira.
ResponderExcluirOuvi um musiquinha que canta assim:
"Nowhere to go but deep inside"
É isso aí amigão.