Muriaé, 7 de Fevereiro de 2010. Aproveitei que passava pela cidade, retornando de uma viagem a trabalho, para visitar, brevemente, parentes e amigos. Algo que faço com muito carinho por aqui é passar na casa da Hérika, amiga de longa data, onde aproveito de uma recepção sempre muito agradável. Nessa época, o clima de sua família fica ainda mais gostoso, pois sua irmã, cunhado e filhos, costumam ficar lá nas férias.
Seus pais sempre me receberam com muita distinção. Com sua mãe, Marli, tenho abertura para boas conversas, estas que abordam família, profissão, vida econômica, história da família do meu pai e detalhes do cotidiano da cidade. Se deixarmos, conversamos por horas, pois somos bons de prosa. Também gosto muito de ficar naquele quintal, com uma mangueira que torna bonita a divisa do lote com a Rio-Bahia, e que compõe uma bela visão daquela casa diferente, pois ela acompanha o formato da esquina ao final da rua Eucário Godinho, para quem segue do Centro em direção ao bairro Dornelas.
Seus pais sempre me receberam com muita distinção. Com sua mãe, Marli, tenho abertura para boas conversas, estas que abordam família, profissão, vida econômica, história da família do meu pai e detalhes do cotidiano da cidade. Se deixarmos, conversamos por horas, pois somos bons de prosa. Também gosto muito de ficar naquele quintal, com uma mangueira que torna bonita a divisa do lote com a Rio-Bahia, e que compõe uma bela visão daquela casa diferente, pois ela acompanha o formato da esquina ao final da rua Eucário Godinho, para quem segue do Centro em direção ao bairro Dornelas.
Em determinado momento da visita, a última antes de continuar a viagem em direção ao Rio de Janeiro, Marli perguntou-me sobre minha vida. Ela queria saber mais sobre mudanças que, em outra conversa, eu mencionara querer fazer. Mudanças como a de retornar à UFF, Volta Redonda, movimento que fiz em 2008 e que acabei não levando a frente, retornando à UFRRJ, Seropédica, no início de 2009. A realidade que criei com a mudança foi tal que não consegui sustentá-la, disse a ela. Retornei para repensar e refazer com calma aquele movimento, procurando dar sentido à bagunça em que se transformara meu cotidiano. Sobre a retomada desse projeto, contei-lhe sobre o que queria alcançar no futuro, como a construção, juntos com os colegas de trabalho, de uma escola de negócios diferenciada. Esta que seria um estímulo a mais para usar de minhas energias, coisa que o ambiente da UFRRJ e do meu departamento não propiciavam. Falei do quanto estava difícil ficar trabalhando num local onde não se fala em projetos para o futuro nem se demonstra algum envolvimento com a lide de educadores. Disse a ela que o concurso nos dava a condição de professores, mas que não buscávamos ser educadores. Por fim, em tom de pesar, falei da casa que deixaria em Seropédica caso materializasse a escolha, e reforcei a necessidade que tenho de encontrar um lar e, enfim, fixar meu pouso.
Vendo minha euforia -- e nesses dias eu estava de fato exasperado -- e meu discurso, que me transformava numa insatisfação ambulante, Marli falou-me de duas moradas: a da alma e a do corpo. Com seu jeito calmo, didático e franco, ao mesmo tempo em que levava sua mão à altura do meu peito, falou-me que eu só irei encontrar essa morada, lar, ninho, pouso, etc. se tiver encontrado a morada da minha alma, indicando com um dedo o meu peito. ─ Primeiro encontre essa morada para repousar ─, disse ela. Pediu para que eu repousasse minha alma para ter a paz, harmonia, força, fé necessárias para enfrentar a vida, seus desafios e desdobramentos. Via-me afoito, nervoso, ansioso, querendo fazer as coisas, mas não sentia em mim a plenitude para realizar o que queria. ─ Esta plenitude só se alcança com a alma acolhida, protegida, alimentada ─ complementou.
─ Quando sua alma estiver na morada dela, as coisas ficarão menos difíceis do que realmente são, e, quem sabe, não encontra a outra morada? ─, disse ela. Sem mudar seu tom, finalizou lembrando que quando a morada da alma está bem alicerçada, somos capazes de enfrentar qualquer intempérie, qualquer mudanças, que somos capazes de viver mesmo na morada física menos remediada. ─ Todos precisam dessa primeira morada ─, finalizou.
Não foi preciso mais conversa. Guardei aquela mensagem em meu coração, protegida e reforçada com a força do meu silêncio, enquanto refletia. Além disso, deixei a casa naquele dia com um CD de mantras católicos, dado-me para escutar durante o retorno ao Rio de Janeiro. Deixei a casa e fiquei espreitando-a alguns segundos antes de pegar a estrada. Uma fotografia única. Para quem passa pela Rio-Bahia, em direção ao Nordeste (ou à Itaperuna), logo após a primeira entrada para a cidade, lá estão a casa, a esquina e a Mangueira. Dentro deles, ou abraçando-os, uma morada da paz.
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