sábado, 15 de outubro de 2011

Da paixão que me move

UFRRJ, 25 de maio de 2011, prédio do PPG, 22 horas. Acabo de sair de uma das melhores aulas que dei em minha curta vida de professor. Ao menos para mim, os sessenta minutos em que tratei o tema comunicações de marketing foram sensacionais. Em verdade, foi a primeira vez que dei uma boa aula sobre esse tema do qual tanto gosto. Espero que os alunos tenham vivenciado bons momentos de aprendizagem nesses contagiantes minutos em que vivenciei intensamente o bom de ser um educador apaixonado pelo o que faz.

Saio da aula com uma ingênua ambição: se do tema central nada ficar, que da paixão com que atuei venha uma lição. Que a paixão seja o elemento que estimule e oriente mudanças sensíveis e objetivas no comportamento daqueles alunos. Principalmente o comportamento em relação ao envolvimento com o ensino e a postura enquanto aluno. Eles precisam cobrar mais dos professores e deles mesmos. Pois quem dá paixão merece, no mínimo, uma recepção apaixonada, um ambiente que fomente a paixão e seus desdobramentos positivos contagiantes.

O apaixonado é gratuito, generoso, quer a interação e a gostosa experiência do compartilhamento da energia que o move. Ele quer mais: é insatisfeito e não vai medir esforços para descobrir mais do que torna a vida mais interessante. Em sua ingenuidade, ele não verá os pequenos obstáculos convenientes aos pessimistas, o deserto de idéias e sentimentos familiar aos pragmáticos e as pequenas conveniências que inspiram os miseráveis de alma. O apaixonado vai acreditar que algo novo será produzido e vivenciado, que valerá a pena doar-se para essa busca que inevitavelmente leva a uma nova realidade, esta pedindo para ser aprendida, ensinada, compartilhada, transformada e experimentada.

Foi essa ingenuidade inspirada - e espero inspiradora - que me lançou hoje em direção ao que para mim torna a vida mais interessante: ver e ajudar o outro a crescer. Entendo ser este o meu papel enquanto educador. É uma experiência que ajuda a tornar o mundo melhor. Acredito muito nisso: no crescimento humano resultante da força transformadora do conhecimento. Foi assim que transformei as realidades que tive para experimentar, que plantei os sonhos e esperanças que empolgaram minha caminhada até aqui. Mais: foi pelo conhecimento que me apresentaram, ainda que dele pouco tenha apreendido, que mudei a mim, que jamais serei novamente aquilo que um dia fui. Mudei minhas atitudes e comportamentos em relação ao meu devir e a minha posição em relação aos outros, os objetos e ao planeta. Aprendi que viver é percorrer e preencher, com o que temos de melhor, o lapso de tempo e espaço entre a vida e a morte.

Contagiante e oportuno este dia de aula, esta sublevação da paixão. Sim, sublevação.  Pois apesar da minha vontade e consciência de que devemos lutar pela imanência do nosso sopro de vida, minha atual fase de professor anda seca, morna, insossa. Ando muito exposto a força negativa do meu coletivo de trabalho, com reflexos claros sobre meu desempenho. Ambiente de trabalho este marcado pelo pragmatismo, oportunismo e miséria de alma. Não vejo brotar do nosso fazer diário as boas idéias, nem reflexões responsáveis sobre o papel da educação e da universidade para a transformação social; não vejo emergir projetos coletivos ou pequenos e breves consensos de que devemos responder a altura o gasto do dinheiro público para manter nossa estrutura. Minha sensação diária é a de que para o nosso trabalho levamos e deixamos pouco, que de lá pouco extraímos, e que lá quase nada compartilhamos.

Hoje a paixão subverteu as regras da minha apatia e reivindicou a aplicação do estatuto da imanência. Ela ditou as regras e, quando percebi, apenas deixei-me levar, apenas consenti àquele assalto que, oportunamente, distanciou-me do cativeiro em que se transforma o dia a dia de uma universidade pública onde as pessoas estão orientadas para o seu próprio umbigo, que se aprofundam em suas ambigüidades, veleidades e narcisismos. Rendi-me a paixão. Lancei-me com força ao ato de doar-me para, uma vez exaurido, como encontro-me agora, abrir as portas para um outro dia em que algo novo será produzido e vivenciado. Ou melhor, aprendido, ensinado, compartilhado e transformado.

Um comentário:

  1. Adorei!!!
    Conteúdos são importantes, fazem parte, mas o mais importante é contribuir para o crescimento dos nossos estudantes. E com paixão, muita paixão...

    ResponderExcluir